18 de jan. de 2016

Só amêndoas estouradas

Hoje não tem poesia no calçadão da praia.
Só amêndoas estouradas e poças d’água.
Nem choveu – claro!,
porque dessa vez eu levei guarda-chuva.
Ainda há pessoas que pegam onda nessas águas.
Eu nunca entendi as pessoas que pegam onda nessas águas.
Nem onda tem.
Só coliformes fecais.
Será que ainda existem os caçadores de mariscos
que emergiam entre as pedras?
Só vejo um punhado de conchas abertas.
Eu caminho como uma caçadora de tesouros.
Mas não há tesouros no calçadão da praia.
Só amêndoas estouradas.


SÉRIE: PAISAGENS URBANAS – PRAIA DE ICARAÍ II

17 de jan. de 2016

O céu de Hitchcock

Estou em um filme do Hitchcock
onde só há pombos e urubus
sobrevoando o céu.
A cidade matou os pássaros.
A Baía de Guanabara cospe catarro na areia de praia
e arrota podre.
Caminho tentando encontrar beleza,
mas só vejo paus de selfie,
carros, fios de alta tensão.
Pisoteio formigas desorientadas
e sigo de volta pra casa.
“As formigas nas mãos de Buñuel são mais belas”, penso.
Os pássaros de Hitchcock são mais belos.
A realidade fede.


SÉRIE: PAISAGENS URBANAS – PRAIA DE ICARAÍ I