e então você me dá as costas
e eu te vejo caminhando
as mãos nos bolsos
os olhos acompanhando os buracos da calçada
a solidão pendurada nos seus ombros
se balançando pra lá e pra cá
te fazendo cambalear um pouco.
o dia vai clareando
e você sumindo no horizonte...
quer dizer, não, não há horizonte!
você some ao dobrar uma esquina
de repente
as luzes dos postes se apagam
o funcionário sobe a porta de ferro da padaria,
fazendo um enorme ruído rasgar o dia
e um bando de pombos revoar
para o outro lado da rua.
outro jeito de ir embora
é se distrair observando
a curvatura da cinza do cigarro que se queima longamente,
um rótulo de cerveja,
as unhas descascadas,
ou qualquer conversa desinteressante simulando um enorme interesse
enquanto tenta não pensar em nada.
é não olhar para trás,
e nem perceber a primeira cena.
ir embora é carregar silêncio nos pés e mordaças no peito,
e nós sabemos como ninguém estar sempre indo embora.
mas isso não é sobre despedidas.
é sobre encontros.
a gente se esbarra.
é que desde a primeira vez,
sempre foi o último beijo.
sempre foi o último beijo.
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