13 de abr. de 2015

DISFARCE

não precisa mais pular as janelas
como um salteador barato.
agora as portas estão abertas
e você simplesmente passa...
talvez já tenha até mesmo esquecido
a dor de atravessar as paredes
e o cheiro dos encanamentos enferrujados
em que a gente se enroscava.

guarda a sua loucura
numa caixa,
num cofre atrás do quadro,
tranca no armário,
nas gavetas,
no porta-malas do carro,
deixa a sua loucura de castigo
fechada no quarto,
engole a chave
e aguenta o peso do ferro no estômago.
(seu estômago já aguentou coisas piores, não é mesmo?)
mantenha a sua loucura bem segura
nesse potinho hermeticamente lacrado.

não se lembre de como era bom de um salto flagrar
um disco na vitrola, uma droga, um strip-tease,
de um salto a noite tirando seu vestidinho preto,
e a gente barrando a penetração do sol
com nossos óculos escuros e um doce desprezo.
nem lembre que toda janela saltada guardava surpresas.
e de como nos sentíamos super-heróis ao atravessar paredes.

esconda seus superpoderes,
se disfarce.
do outro lado da porta
são impiedosos com quem voa.

e é por isso que eu abro a caixa, o cofre, o armário, as gavetas, o porta-malas, o quarto e o potinho hermeticamente fechado.
ainda prefiro o cheiro dos canos enferrujados.

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