10 de jul. de 2018

AS TAMPAS E AS CANETAS


Às vezes, vou fazer arrumação
e encontro um monte de caneta sem tampa
e mais um monte de tampa solta.
Só que as tampas não encaixam nas canetas.
Aí eu me pergunto onde estão as canetas daquelas tampas
ou as tampas daquelas canetas
Ou se foi sempre assim e nunca notei
Ou se o tempo separadas as fez mudar de forma
Em que parte do caminho elas deixaram de encaixar?
Eu mesma me sinto uma tampa
ou uma caneta
dessas largadas na bagunça do quarto
dessas que eu nunca acho
ou estão sempre trocadas
ou mudaram de forma.
Não me encaixo
em nenhum lugar.
As canetas ainda servem
enquanto há tinta para gastar
em um poema
desses que tampouco servem para nada.
Mas a tampa,
o que fazer com ela?
Guardo tampas desencaixadas
por medo de ser jogada fora.
Tampas vermelhas ou pretas
quando só há canetas azuis
ou muito largas
ou muito estreitas
Tampas claramente perdidas para sempre
de suas canetas
estouradas ou gastas
em tantos poemas
Tampas modificadas
por tanto tempo
e tantas separações
que jamais encaixarão novamente
em nada.
Um dia ainda escreverei
só com as tampas.

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