18 de nov. de 2018

OLYMPIKUS SEM ASAS


Os velhos tênis de corrida
querendo sempre se pendurar
nos fios de alta tensão

O silêncio dos cisnes
de todas as tardes                       
Nossa cumplicidade de moradores do lago
que congela
Talvez embaixo do bloco de gelo
a cada inverno
aguardando qualquer mísero derretimento
para respirar

Pegar um voo barato pra qualquer lugar
Migrantes, nômades
Um cisne de asas cortadas
Patinho feio, pobre,
Latino-americano
(Meu balé é um belo pancadão – até o chão)
Me derreto por qualquer bobagem
Picolé de verão

Todas as pontes sobre os canais daquela cidade
Travessias, ligamentos,
convite ao salto
- até isso pode parecer bonito
pra quem tem poesia no lugar
de um coração

Deixa virar pedra
e esculpe
um monumento em praça púbica
Triunfalmente sentado
sobre um jegue
empunhando um abacaxi
- “Meme ou morte!”

Nem em matéria de poesia
a gente se leva a sério
Nem de coração

Rir é bom
e nem sempre eu ria por aquelas ruas frias
Mas quem está rindo agora?
Viramos um povo triste
com os dentes expostos
como uma caveira
Ou nem isso –
Aqui,
nem fóssil humano antigo
resiste.

Por que eu deveria?

Meu museu é a rua.
Estou exposta
com uma mala roçando no calcanhar
sem ter onde chegar

Aqui, entro e fecho o zíper.
Respiro menos que num lago congelado.

Um desses balões de gás hélio
que minha sobrinha ganha
em todo passeio no Campo
a cada fim de semana
Coloridos, incríveis, nas suas mãos,
seu encantamento!

Só murcham se ficam presos no apartamento.
Se somem no céu,
serão sempre lindos
Como uma lembrança
Uma saudade
Uma língua estranha
que a gente aprende
só pela metade.

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