para Tavinho Paes e Juliana Hollanda
nem é estilete
não é desespero
a solidão é calma,
silenciosa,
discreta,
não deixa marcas
a solidão pode ser apenas
uma porta aberta
por onde ninguém passa
ENTRE SEM BATER
para Juliana Hollanda
ter a chave
e não saber que porta ela abre
ou ter a porta aberta
e ninguém pra passar por ela
são dores da mesma natureza
atravessar a parede
é uma dor incomparável
atravessar a parede
é para poucos
e não saber que porta ela abre
ou ter a porta aberta
e ninguém pra passar por ela
são dores da mesma natureza
atravessar a parede
é uma dor incomparável
atravessar a parede
é para poucos
BAGANA NA CHUVA
de/para Mário
Bortolotto
ele
costumava olhar os pássaros
o retrato de uma garota e um estilete que não ia usar
caiaques no céu
baganas atiradas em poças d’água
gotas de chuva com gosto de pepsi-cola
ele nunca conseguia chegar em casa
era preciso pegar uma mulher e fugir pra algum lugar
um lugar onde não se ouvisse falar de amor
onde ninguém soubesse tocar saxofone
mas ele apenas tomava conhaque na janela ouvindo blues
(música é melhor que saber o caminho de volta pra casa)
o retrato de uma garota e um estilete que não ia usar
caiaques no céu
baganas atiradas em poças d’água
gotas de chuva com gosto de pepsi-cola
ele nunca conseguia chegar em casa
era preciso pegar uma mulher e fugir pra algum lugar
um lugar onde não se ouvisse falar de amor
onde ninguém soubesse tocar saxofone
mas ele apenas tomava conhaque na janela ouvindo blues
(música é melhor que saber o caminho de volta pra casa)
FIM DE FESTA
“vai ter uma festa / que eu vou dançar / até o sapato pedir pra parar /
aí eu paro / tiro o sapato / e danço o resto da vida” (Chacal)
aí eu paro / tiro o sapato / e danço o resto da vida” (Chacal)
queria tirar o sapato e dançar o resto da vida
mas a festa acabou e há cacos quebrados no chão
o pé vacila e se mantém sobre os saltos
o pé hesita e não se solta nos passos
o pé fica atrás
chego a fechar os olhos
pra me deixar levar no seu ritmo
mas a luz acendeu e de repente ficou tudo tão claro!
olhos claros de mágoa a se espiar desconfiados
meu olhar borrado de lápis e rímel e lágrima
a música parou de tocar e teu sussurro é um berro
um brado desesperado de amor
que me faz dançar com os pés do ouvido
se nenhuma música mais tocar pra gente dançar
você dança um poema comigo?